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24/10/2008

Gestão de Carreira

O que fazer para evitar que a fila ande?

Qualificação e postura podem levar gestor a querer sua permanência no cargo.

Ter uma profissão estável e um emprego que transmita segurança, bem como possibilidades de crescimento e reconhecimento é o sonho de muitas pessoas. A situação pode ser ainda melhor quando a combinação entre a função e o profissional tenha tamanha perfeição que se torna difícil imaginar outra pessoa naquele posto. Mesmo tendo alcançado todos estes objetivos é possível ter garantia de um emprego para sempre? Segundo o professor da Faculdade IBMEC-MG, João Batista Vieira Bonome, essa idéia de ser um profissional insubstituível é apenas mito, mas não significa que não se possa ser competente, afinal como ele explica há diversos profissionais altamente qualificados. Entretanto, acreditar que isso o torne indispensável é um erro.

O fato de ser um profissional qualificado não significa estabilidade no emprego, mas também não é por buscar a qualificação profissional que a pessoa será demitida, como explica Bonome. É um certo paradoxo do mundo corporativo, mas o que acontece, segundo ele, é que o mercado não consegue encaixar este profissional extremamente qualificado dentro das empresas, pois ele possui tantos conhecimentos que já não o enquadram dentro de nenhuma vaga. Esta capacitação que Bonome se refere não diz respeito apenas ao campo da experiência profissional, aborda também características pessoais.

"Partindo do princípio de que todas as pessoas são substituíveis, o profissional muito qualificado tem uma tendência a se manter no mercado de trabalho por muito mais tempo", afirma Bonome. Porém, segundo ele, por mais que a empresa ofereça a este profissional um cargo, existe possibilidade de frustração, pois nenhuma função será equivalente à quantidade de conhecimentos acumulados por ele. Como então é possível lidar com este paradoxo? Como permanecer no mercado por mais tempo se as empresas não estão aptas a estes profissionais? "Hoje, as carreiras profissionais devem ser traçadas pelos próprios profissionais", acredita Bonome. Para ele, é comum que, ao perceber que não há mais função a ser exercida neste mercado, o profissional busque abrir o seu próprio empreendimento.

Para ter destaque perante a quantidade de profissionais que buscam cada vez mais qualificação é importante, segundo Bonome, manter-se atento a algumas atitudes, como a de buscar desafios mesmo onde eles aparentemente não existam e ficar atento a novas carreiras. "Cabe a cada um procurar onde essas carreiras estão. Não existem limites para que se busquem outras qualificações", garante Bonome. Mas é importante ficar atento a alguns erros comuns do mercado de trabalho. Todos sabem da necessidade de se manter uma rede de relacionamentos. Bonome, entretanto, diz que existe a maneira correta de manter esses contatos sem cometer algumas gafes. "As pessoas acham que o network é se relacionar. Surge aquele perfil de que ninguém tem nada contra, mas ninguém tem nada a favor. Acaba tendo uma aproximação só por interesse", acredita Bonome.

O entender da palavra insubstituível também pode ser debatido, segundo a diretora do Instituto Migliori, Regina Migliori, por meio da contribuição que o profissional pode oferecer dentro de determinado cargo. Ele poderá se tornar insubstituível no momento da atuação profissional, mas não significa que não exista outra pessoa que possa exercer aquela função futuramente. Na opinião dela, não faz sentido querer se projetar para o futuro, pois é algo desconhecido e pelo qual não se tem controle. "A tentativa de querer controlar o futuro não permite que a pessoa ofereça tudo à empresa se ela procura guardar seu potencial para o futuro", acredita Regina. Ser insubstituível naquele determinado espaço de tempo dentro da empresa não é sinônimo de inovação. Regina acredita que se encaixar no perfil da empresa é uma habilidade que deve ser valorizada e que poderá dar destaque ao profissional. "Se encaixar em um perfil não é nenhum problema, é um valor humano, é falar a língua de onde se está trabalhando", explica ela.

"Ninguém constrói reputação com foco no futuro. Trata-se do registro daquilo que eu faço ou que eu fiz", afirma Regina. A diretora do instituto explica que é importante construir uma identidade relacionada a três níveis de excelência: técnico e instrumental - que é relacionado às funções específicas -, relacional - que é a forma como se lida com o universo próximo - e o eixo filosófico, que mantêm relação aos valores e princípios do profissional. "Os três são muito importantes, mas as pessoas não podem ficar prisioneiras a eles", afirma ela.

Um grande problema apontado por Regina é que as pessoas tendem a se manter prisioneiras do medo. "Por medo de perder o emprego elas perdem mesmo", acredita a diretora. Para ela, ao se manter refém desta característica, o profissional acaba por deixar de olhar de forma lúcida para as oportunidades de crescimento. Ela acredita que as pessoas crescem mais quando não tem nada garantido. "O desenvolvimento humano cresce quando a gente vai além da nossa vontade, então a gente precisa ter coragem, ter ousadia", afirma Regina.

A professora de administração da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Mônica Barbosa Gueiros afirma que as pessoas podem desenvolver estratégias de empregabilidade, ou seja, buscar qualificação para se manter inseridas no mercado de trabalho. "É preciso buscar conhecimentos e desenvolver habilidades e atitudes que sejam demandadas pela sua área de atuação. Além disso, o ideal é estar em sintonia com as tendências do negócio aonde se exerce a atividade profissional", afirma Mônica. Ela acredita ser necessário pesquisar, identificar e vislumbrar novos negócios capazes de repercutir direta ou indiretamente na atividade profissional.

"Hoje o profissional tem que ter um olho na sua formação e outro no comportamento dentro da empresa", afirma ela. Para Mônica, é essencial buscar equilibrar essas duas dimensões, já que não adianta ser um bom profissional se não houver postura ética e respeitosa para com a empresa e os colegas de trabalho. Sem estas atitudes, certamente as chances de se manter no emprego serão minimizadas. Ela acredita que o importante seja buscar sempre o aprendizado. "O profissional precisa aprender sozinho com erros e acertos, aprender com os líderes e através deles. Também com os subordinados, e aprender com os colegas de trabalho, ou seja, os pares", afirma a professora. FONTE: UNIVERSIA